Comecei a ir na feira com cinco, seis anos de idade, levado pelas mãos da minha mãe. Todas as segundas-feiras andávamos uns 700 metros até a feira na Rua Comendador Santiago Colle, no Ahú, que depois ficou mais perto, na Rua Colombo. Era de lá que vinham as frutas e verduras consumidas durante a semana. Mas minha mãe, Dona Maria, não ia à feira apenas para comprar. Em cada barraca cumprimentava o feirante, trocavam meia dúzia de palavras, ou dúzias inteiras, dependendo do tempo de cada um. Não é à toa que cinquenta anos depois encontro feirantes que sentem falta da conversa animada dela. Num sábado de sol, lá pelas 10 da manhã estou eu na feira-livre do Juvevê-Alto da Glória, quando paro na barraca de flores e duas simpáticas feirantes me abordam e dizem que ficaram tristes com morte da minha mãe ocorrida em fevereiro.
- A gente batia longos papos. Falávamos da família, da novela e de plantas – conta dona Alice.
Observo o vai e vem de pessoas com suas sacolas. Sigo: paro aqui, compro ali, pechincho acolá e também, não tão bem quanto minha mãe, puxo conversa com um outro feirante. E descubro por exemplo que durante toda minha vida cozinhei milho do jeito errado.
- Bastam sete minutos na panela depois que a água ferver, me diz o dono da barraca.
Eu deixava na panela de pressão por meia hora. Comprei o milho, e em casa fiz o teste: funcionou. Aprendizado que já estou passando à frente nesse texto e levo pro resto dos meus dias.
O passeio completo na feira tem que ser uma caminhada do começo ao fim e, de volta, do fim ao começo. De um lado tem artesanato. Mãos hábeis transformam lixo em peças criativas feitas pelo Seo Madruga. Juliana Cidali faz brincos e colares e brinca com o nome da marca famosa, com sua grife, a “Preta Fina”.
Na maior feira da cidade além dos produtos trazidos direto da roça, tem brinquedos, roupas, carnes, embutidos, massas, bolacha (e se você prefere biscoito, também tem). O espectro de cores me encanta: o verde do pimentão da couve, da alface; o vermelho do tomate e do rabanete; o amarelo do maracujá e os infinitos tons de laranja dos cítricos. Encontrei a Walkíria, minha colega da faculdade, que não via há mais de vinte anos. Outro amigo, o Miguel, aposta confiante no meu futuro político. Cruzei também com o Bernardo, editor do Jornal do Juvevê, que por aqui é conhecido por todos e conhece todo mundo. Gente com tradição no trabalho e no comércio de barracas, que logo depois do meio dia começam a ser desmontadas com a rapidez da experiência. Tudo vai sendo guardado ordenadamente já que para a maioria, no dia seguinte tem outra feira em outro ponto de Curitiba. Mas ainda não vou embora. Falta sentar nas mesinhas e saborear, nunca um só, pelo menos dois pasteis. Adoro o de palmito e o de queijo. Só me levanto quando praticamente não há mais ninguém vendendo e a rua já está quase liberada para o seu trânsito normal. Foi mais um dia de feira pra todo mundo aproveitar.
Herivelto Oliveira - Jornalista e Vereador
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