O termo perfeição origina-se do latim “perfectio” que significa ação de finalizar algo e pode ser definido como a tendência para estabelecer padrões excessivamente elevados, pela rígida adesão a esses mesmos padrões, e pelas auto-avaliações demasiado críticas (Frost, Marten, Lahart, & Rosenblate, 1990; Shafran & Mansell, 2001).
Na Psicologia, Hamachek (1978) foi o autor pioneiro em apontar a importância, assim como a necessidade de fazer uma distinção entre perfeccionismo normal ou adaptativo e perfeccionismo neurótico ou desadaptativo.
O perfeccionismo adaptativo é representado pelo indivíduo que se esforça no sentido de alcançar metas realistas que levam a sentimentos positivos de autoestima e realização. Trata-se de um comportamento funcional, com reconhecimento dos próprios limites, manutenção dos esforços pessoais e entendimento acerca de suas possibilidades.
Por outro lado, o perfeccionismo desadaptativo é disfuncional, levando a pessoa a acreditar que por mais que se esforce seus padrões e expectativas bastante elevados não serão alcançados. Nesse sentido, sempre será marcante a preocupação intensa, raiva, tristeza e frustração por conta de seu desempenho não estar de acordo com o que acredita ser o seu padrão de exigência. São pessoas propensas a desenvolver baixa autoestima, autocrítica e auto cobrança exageradas que levam a sintomas de ansiedade, depressão e transtornos alimentares.
Eis algumas opiniões de pessoas com as idades variando entre 18 e 74 anos, que responderam a pergunta “O que você entende por perfeccionismo?”
1 - “Quando tudo se encaixa perfeitamente”.
2 - “Entendo que não nascemos perfecionistas, nos tornamos devido a caminhada da vida”.
3 - “Poderia ser melhor. Na próxima vai ficar melhor”.
4 - “Sou muito a favor do perfeccionismo, pois estabelecer padrões elevados e rígidos para si mesmo automaticamente trás uma série de requisitos e conduz a auto-avaliação constantes, faz nos auto desafiar diariamente”.
5 - “Para mim é a busca de uma utopia, é esperar algo estar perfeito para você alcançar alguma coisa”.
6 - “Perfeccionistas, eu entendo que são pessoas que sofrem um pouquinho. Eles sofrem e fazem quem está na volta sofrer, principalmente a família”.
7 - “É uma característica que ao meu ver mais atrapalha do que ajuda. Porque a pessoa busca tanto a perfeição, coisa que não existe, que acaba não vivendo diversas experiências por receio de errar. A pessoa perfeccionista vive uma condição de auto cobrança que gera nela uma ansiedade que certamente vai impactar negativamente a sua vida”.
O perfeccionismo constitui um traço de personalidade, um construto bastante complexo e multidimensional, composto de variados aspectos e sintomas. Pode tornar-se um problema quando desadaptativo, pois vem acompanhado de intenso receio de cometer erros, muitas dúvidas, comportamentos de procrastinação, rigidez excessiva representada por um grande apego à regras, insatisfação e excesso de cobranças, além de muitas comparações e apego à detalhes que passariam despercebidos por outras pessoas.
Quanto às possíveis causas de origem do perfeccionismo pode-se mencionar o fator ambiental representado pelas seguintes situações:
● parentalidade exigente, isto é, pai e/ou mãe intolerante (s) aos possíveis erros dos filhos;
● validação excessiva das conquistas, levando a uma dependência de elogios para sentir-se amado;
● competitividade, fazendo com que o entendimento de valor esteja sempre associado a conquistas.
Diante disso, recomenda-se a psicoterapia com a finalidade de trabalhar as questões ligadas ao perfeccionismo desadaptativo. O profissional capacitado conduz o paciente a identificar e compreender os pensamentos distorcidos, que levam a comportamentos com potencial de causar danos psicológicos devido à rigidez e inflexibilidade que o levam à busca pela perfeição.
Obrigada por acompanhar o Jornal do Juvevê e a coluna de Psicologia Vida Plena Psi, até a próxima.
Cláudia Ducci Hartmann
Psicóloga CRP 08/37672
duccihartmann@gmail.com
@psi.claudiaducci
fontes:
Oliveira, D. F., Carmo, C., Cruz, J. P., & Brás, M.. (2012). Perfeccionismo e representação vinculativa em jovens adultos. Psicologia: Reflexão E Crítica, 25(Psicol. Reflex. Crit., 2012 25(3)), 514–522. https://doi.org/10.1590/S0102-79722012000300011
Nossa que assunto bem interessante e relevante. Vivemos tempos de muitas cobranças sociais e profissionais. A competitividade tão aguçada faz com que não apenas as pessoas se comparem muito umas com as outras, como também desenvolvam uma auto cobrança exagerada sobre si mesma. Perigo é quando nos perdemos com a intenção de fazer tudo bem feito, para querermos fazer tudo perfeito. Quando sentimos aquela sensação de que nunca fizemos bom o suficiente, imaginando que sempre precisamos de algum reparo, algum toque final e com isso corremos o risco de nunca ficarmos satisfeitos. Nossa quanto isso pode ser angustiante. Este assunto é rico, cheio dos desdobramentos.....parabéns Claudia. Adorei este tema.
Ass.
JRM
Nas exigências cotidianas, frequentemente não percebemos o que nos motiva nas resoluções das mais diversas situações e entender nossa "dosagem" de perfeccionismo se faz essencial para um equilíbrio emocional desejado e necessário. Excelentes suas colocações e de importante reflexão.