Dia da Mulher: menos de 15% das ruas de Curitiba têm nomes femininos
- Jornal do Juveve
- 10 de mar.
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Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, a CMC resgata a história de mulheres que denominam ruas da cidade.

Se “sujeito é o que se nomeia”, como definiu o psicanalista francês Jacques Lacan (1901-1981) ao associar o nome próprio à singularidade do ser humano, a identidade urbana também se constrói a partir da nomeação das ruas, praças e demais espaços públicos da cidade.
Imagine, na capital paranaense do século XIX, caminhar pelas ruas do Fogo, rebatizada como São Francisco, ou da Liberdade, que hoje recebe o nome de Barão do Rio Branco e abriga a Câmara Municipal de Curitiba (CMC).
Antigamente, as ruas, travessas, becos e largos (hoje chamados de praças) eram conhecidas pelo nome de seu morador mais ilustre, características do local ou algum fato marcante. A rua Riachuelo, por exemplo, de acordo com as “plantas de Curityba” dos anos de 1857 e 1963, era a rua da Carioca, uma referência à fonte d'água (ou carioca) construída naquele local. Com o passar do tempo, as denominações passaram a homenagear datas e personalidades históricas.
O primeiro “endereço feminino” da capital do Paraná, segundo a coletânea de mapas históricos do Instituto de Pesquisa e Planejamento de Curitiba (Ippuc), só aparece no documento de 1894. Trata-se do Largo Thereza Christina, batizado em homenagem à esposa de Dom Pedro II e Imperatriz Consorte do Brasil até a Proclamação da República, em 1889. Antes disso chamado de Largo Lobo de Moura, o local deu origem à praça Santos Andrade, localizada no Centro da capital do Paraná.
Hoje, os nomes de mulheres estão presentes em cerca de 14% dos logradouros públicos do Município de Curitiba. Ou seja, segundo dados do Ippuc de janeiro passado, elas emprestam o nome a 1.407 dos 9.998 logradouros da capital (a maior parte do total são ruas, com 8.688 ocorrências). O conceito de logradouro é mais abrangente e reúne, além das vias públicas, os demais espaços de uso comum da população, como praças, parques, bosques, jardinetes, pontes e viadutos.
Se considerados apenas os logradouros que correspondem a endereços da cidade, isto é, as ruas, avenidas, travessas, alamedas e estradas, a presença feminina entre as denominações é quase a mesma, de 13,8%. Ou seja, das 9.123 vias públicas de Curitiba, 1.263 homenageiam mulheres, sendo 1.203 ruas, 10 avenidas, 47 travessas e 3 alamedas.
O levantamento faz parte do projeto “Entre Ruas & Memórias”, que busca resgatar a identidade de Curitiba por meio dos nomes de seus logradouros públicos. A iniciativa é desenvolvida a partir do convênio entre a Câmara de Curitiba e a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), firmado no fim de 2023. A parceria, no ano passado, já resultou na publicação de trabalhos sobre as sedes do Legislativo e a participação popular na política.
Você conhece a história da rua em que mora?
Para marcar o Dia Internacional da Mulher, celebrado neste sábado (8), a Câmara de Curitiba divulga o primeiro recorte do projeto “Entre Ruas & Memórias”, com um levantamento sobre os nomes femininos das vias públicas da cidade. O objetivo é construir um banco de dados com as biografias de personalidades e anônimos que ajudam a construir a identidade urbana da capital paranaense.
Além de resgatar a trajetória dessas pessoas, o projeto mapeia o tipo de logradouro, localização, extensão aproximada e a lei que determinou a nomenclatura. Iniciado em janeiro, o trabalho é conduzido por três pesquisadores-bolsistas do curso de bacharelado em História da PUCPR, Fabricio Rocha, Natalia Garcia Krainski e Victoria Regina da Silva, com o apoio da Diretoria de Comunicação Social, da Escola do Legislativo Maria Olympia Carneiro Mochel e da Seção de Arquivo e Documentação Histórica da CMC.
O projeto “Entre Ruas & Memórias” faz parte do programa Nossa Memória, dedicado ao resgate da história da Câmara Municipal e da cidade de Curitiba. Diretora de Comunicação Social da Câmara de Curitiba, a jornalista Patricia Tressoldi reforça a importância da iniciativa, criada, em 2009, por servidores da Casa. “É um resgate histórico que vai além de curiosidades e acontecimentos inusitados. Por meio de documentos, relatos e fatos marcantes, mostramos que a Câmara Municipal de Curitiba sempre esteve diretamente ligada às decisões que impactaram o desenvolvimento da cidade. Ao revisitar o passado, destacamos o papel fundamental do Legislativo na construção da Curitiba que conhecemos hoje, valorizando a memória da instituição e a sua contribuição para o futuro da sociedade”, finaliza ela.
A pesquisa tem como embrião o “Rua & História”, lançado, no fim de 2014, dentro do programa Nosso Memória. Na época, a cidade possuía 9.248 mil logradouros e o banco de dados já reúne 50 biografias. A página fechou o ano de 2024 entre as 20 mais acessadas do site da instituição, com mais de 10 mil “cliques”.
Fonte: CMC
Foto: Montagem: Julia Yamane/CMC)
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